Mykola Szoma  -  Poemas especiais

Coletânea:            Outros Poemas Meus
                   Série "Poemas do Coração"

 

E já se foi!..  

E já se foi a primavera
e o verão já vai findando...
E o "sim" dela  -  nada!
O tempo já vai se esgotando.

Por que tamanha sorte má
me assolou a existência?
- A mulher que tanto anseio
me decretou minha falência!

Já fiz de tudo o que podia.
De mil maneiras já lhe falei
Em vão clamei por seus carinhos
até que enfim - capitulei...

Já se avista o outono
e a seguir virá  frio inverno...
Mais dias virão passando
e o sonho meu, aos poucos, irá finando.
 
Mi amor! 

Estou aqui enamorado
esperando algo em você...

Por favor, não  demore tanto!
A garoa humedece os ares
e não arrefece a você?

Desfilam todos aos pares
estalando beijos e carícias;
sòmente nossos lábios
não se dão às malícias.

Por favor, não  demore tanto!
A garoa humedece os ares
e não arrefece a você?

Estou aqui enamorado
esperando algo em você...

 

-------------------------------------
Uma loira tedesca
que alguns chamam de alemoa
passou beirando a janela minha.

Acenou-me um lenço branco
- já fiquei enamorado...

Tudo foi de brincadeira
uma paixão à toa...

 

 ------------------

Quê de afazeres
o maior dos prazeres
o fazer de zombar...

Bar sem ar de astúcia
em botar soco em luvas de pelúcia
é fechar as portas do coração batido...

Abatido e estufado
muitas vezes desbotado
nas sequelas de um nocaute acabrunhado.
Da grosseria de um valente apagado
num piscar de olhos  -  destronado...

Assim é o coração magoado.


Eu não tenho idade.

Meço a minha existência
pela tempo de permanência
aqui, ali e acolá.

O meu estado é físico e, também, é mental.

Como permanência, sou temporal
em todos os meus atos - ora heróicos, ora pacatos.

Como existência, não tenho final
e a mudança é o eterno do meu ser
que permannece buscando o vir-a-ser...


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Por que insistes em desconhecer-me
- fazer de conta nada sentir por mim?
Nas tuas faces dor vejo estampada
- a consequência por me negares assim.

Lá no fundo do teu peito apaixonado
por mim, teu coração, as vibrações sufocam.
Beijar-me queres loucamente enamorada.
De mim queres fazer o teu eterno namorado!

Mas continuas dizendo a todos
que não me amas e nada queres comigo.
Que sou um louco, desvairado e dissonante
que simplesmente perturbo a tua sorte a todo instante.

Nã percas tempo tu, nem perca eu...
Por que tamanha indecisão?..
Proclamemos a todos, o quanto antes -
que tu me queres e é teu o meu coraçao!


---------------
Canção igual
de todos os dias
você cansou de ouvir.

Seu nome murmurar
baixinho em tom menor
- um vício meu,
eu devo abolir.

Jamais lembrar-me de você.
Jamais pensá-la em mim...
Para nós dois melhor será assim!

Você se livrará de mim;
também, eu de você...

Aos imbecis desejos retraidos,
de um amor caduco,
darei um fim!..



Um Pedido Meu

Se eu me for embora antes
e você ficar aqui ainda
não esqueça dos juramentos
feitos aos pés dos altar
e lembra-te
- como você era linda!
                                                 Se eu me for embora antes
                                                 e você ficar aqui ainda
                                                 não perturbe o meu repouso
                                                 na última morada minha
                                                 e lembra-te
                                                 - ver-nos-emos inda...
Se eu me for embora antes
e você ficar aqui ainda
peça a Deus
em pensamentos
que alumie os teus passos
e lembra-te
- você ainda é tão linda!
                                                 Se eu me for embora antes
                                                 lembra-te de mim ainda...


Canto à Brasília

São teus sustentos de cimento
olhando altivos os céus de anil
e tuas largas e compridas avenidas
que orgulho atestam
e dão grandeza aos filhos
de hoje e do futuro
desse Brasil!..

És tu galante canto de Uiara
que noite quis
em plena luz do dia
tampando o sol
                    e as estrelas
com sons de samba
                    e de alegria...

Mulher formosa e inebriante
fruto das selvas e dos trovões
és madrugada  -  raio escaldante
que vida espalha...
Aos tufões!  

E o pobre  -  coitado do tapuio!
mais uma vez
amedrontado e furta - mato
metido em tanga de jaguar
sem que soubesse do porquê
triste e amargurado
se pos a chorar e a chorar.

Os maracás não mais cantaram.
Cochichos seus emudeceram...

Maracatus, cuicas e pandeiros
aos cantos de Uiara se juntaram.
Noite e dia se misturaram...

Filhos brasílidas nasceram!

E o cantar dos sonhos continua
nos teus sustentos de cimento.

Brasília!
Brasília!

Estrela magna do nosso (brasileiro) firmamento.


Um Sonho   

Sonhei que estava
feliz nos braços de Uiara.

Sonhei que
a índia cassiana
de verdes cabelos
de olhos amarelos
era mais bonita
que todas as cores de todas as florestas
e
de todas a flores...

Sonhei que
os reflexos do seu ardor
ofuscavam os raios do sol
por todas as frestas.

Era tudo tão alegre...
Era tudo festa...

Sonhei que estava
feliz nos braços de Uiara.

Sonhei que
os seus cabelos verdes
embaraçavam os meus, e
os seus olhos amarelos
os meus refratavam.

Sonhei que
em seu esguio corpo
que noites não conhecera
o meu cansado e vagabundo
qual gelo à luz do sol
liquefeito se derretera.

Sonhei que estava
feliz nos braços de Uiara.


Galharda Uiara   

Quisera ver galharda Uiara
de olhos amarelos
cabelos verdes
pedindo a noite como presente.

Seria bom
que ela pedisse
uma noite escura
uma noite sem luar.

Seria bom
que ela dissesse
`eu quero a noite
 sem lua e sem estrelas
 cravejada de diamantes
 - vagalumes vagabundos
   vaganado galantes   
   saltando de galho em galho
   como sempre aqui foi antes.

                             eu quero a noite
                             sòmente uma noite escura
                             da cor dos cabelos dela
                             que não os meus  -  Uiara...

uma noite que me envolva
no calor dos desvelos dela...`

Seria bom
que ela pedisse
também um canto meu
                              - aquele de improviso
                              que afogasse na triste melodia
                              o seu virgíneo sorriso...

Seria eu capaz
fazê - la sorridente?
                              ... feliz e
                              contente?     
 
Feliz, contente
acariciando - me em seus braços
como se fora sòmente eu
e mais ninguém
o seu amor eterno e permanente!..

Quisera ver galharda Uiara
pedindo a noite como presente.
Sem luar e sem estrelas
-  uma noite tão sòmente.

Seria eu capaz
fazê - la sorridente?


Teus cabelos e teus olhos   

De ébano
os teus olhos
entraram nos olhos meus.

De cipós
os teus cabelos
embaraçaram os cabelos meus.

Fizeram um reboliço
(cabelos e olhos teus)
- mesclando sons de flauta
                                 de alaúde
                                 e de lira
na dança - de -  ventre
aos arrepios de uma serpente
saracoteando os quadris
de corpo agitado (pouco esguio)
que te animava
fazendo estragos dentro de mim
muito mais que de Hiroshima os festins...

Bulindo os meus sentimentos...
-  senti - me sentado n`areia
teu corpo afagando em soluços
saciando os desejos difusos
ao calor dos teus abraços...

... e já
de saudade morrendo
deitado de bruços.

Assim são os teus olhos.
Assim são os teus cabelos.
Quanto mais os tenho, mais quero tê - los.


Desperta, Argentina!   

Desperta, Argentina!
no grande despertar
dos povos adormecidos.

Sone clarins e clarinetas
em nome de todos os esquecidos.

Acorda
do secular teu sono...
Liberta filhos teus
das mãos dos "assassinos"!

Acorda, Argentina!

!Despierta!..
!Despierta sus huellas ideales!
!Ahora!..
Que ahora es la hora seguir su invisible hado...

Desperta, Argentina!

Ouça os hinos
e o badalar dos sinos
rompendo a boreal aurora
de bóreas tingindo o vasto solo.

Faça ouvir teus cantos.
Portenhas danças
que sacudamn os corações
-  pois que despertem chamas de emoções...

De cheiro matutino
impregne o polo austral
num belo e lindo
acordo magistral.

Desperta, Argentina!
A hora é agora e sem igual.


Ser doido é assim mesmo   

Assuntava um meu amigo
a um amigo seu de infaância
lembrando - lhe as proezas
de menino de estância
em tom de pilhéria e de jactância.

No tempo nosso era assim:

Dois cabeçudos se encontrando
um frente a outro se benzendo
assim...
assim...
e
assim...

Então
o primeiro indagava
ao segundo
que lhe retrucava
respondendo assim:

                          assim...
                          assim...
                          e
                          assim...

Ser doido &e assim mesmo.

é viver à toa
e
vagar a êsmo...

Viver batendo as paredes
batendo só por bater.

Talvez
para sentir melhor o viver!?.


A Noite   

A noite não existe.
Existe o dia
que faz nascer a noite...

Noite escura e colorida -
noite da côr de tição...
Noite é a morena traida
chorando na solidão!..

Morena donzela
qual noite, singela
- ainda existe:
                        é pura e é sincera...
Morena e noite
nas noites sem lua
são doces de côco
- é mais doce, quanto mais crua...

Oh! noite  -  cocada...
eu quero te mais.

De mágicos fluidos
impregnas meus sonhos
- oh! noite - morena divina
tu és celestina:
                        eu quero - te mais!

És pura
quão puro é o luar sertanejo
em teus raios azuis coloridos
eu vejo o manto da lua azul - prateada
que te faz flutuar
nas ondas etéreas do ar...

És tu assim
Oh! noite escura e colorida
quando em teus braços me tomas
me fazes dormir e sonhar
até que o dia venha me acordar.

A noite náo existe
-  existe a lua e o luar.

Existe o dia
qua faz nascer a noite
e faz a morena na noite se retratar.


Cruzemos os Horizontes   

A pé atravessemos
do continente vasto
colinas
serras
e rios
              chapadões
              escarpados
              e montes.

Cruzemos
de ponta a ponta
os nossos horizontes...

Unamos
desde o Atlântico sul
os pedaços de terra agreste
aos pés dos andinos suportes!

Clamemos em brados alertas:
t a m b é m  s o m o s  f o r t e s !!.

Salváticos astros
das tribos primevas
dos virgens terenos
nós somos a prole...

Bebemos cicuta
e fel saboreamos
portanto
estranhos e ditos alheios
jamais receamos.

Nós somos da terra
de mundos futuros
e não titubeamos
-  destino traçamos
e não nos vergamos...

De veias - cipó
extraimos a seiva
e sangue tingimos vermelho.

Madeiras cortamos
da vida e da morte
ao golpe de setas.

Em nossos joelhos
arquejam meniscos atletas
-  nós somos de tribos seletas.

Domamos demônios
                 passados
                 presentes
                 e
                 aqueles ainda ausentes

de outros domínios        
sem medo da morte
ao longo da sorte.

A morte, em si, nos é inndiferente.

Da vida o consorte
nós somos em vida
e o seremos na morte!

Cruzemos de ponta a ponta
os nossos horizontes,
porque nós somos do agreste
porque nós somos fortes!!.   


Na Sorte a sorte tentei   

Na roda que roda
rodei minha vida
-  roleta da sorte tentei.

Mas quanto engano!
Na roda da vida
sò se roda
sabendo rodar...
E eu não sabia, falhei.

Confesso,
quanto falhei!..

Rodei meu dinheiro
            (o pouco que tinha)
pensando em ganhar
mais e mais
- percebi que não tinha
                nem pouco, nem menos
                -  o pouco que tinha, era pouco demais...

Na hora que mais precisava  -
faltou um sei quê!?

A sorte passou de raspão.
Roleta parou de girar
e eis me de novo
sem ter um tostão.

Rodei meu destino.

Sair vitorioso
nas lides da vida eu quis...

Foi tudo engano:
traiu - me o destino
-  eis - me tão só
como era no antanho
          -  o pouco que tinha, era pouco demais.

Rodei meus amigos.
Achei que os tinha...
Não    era verdade   
           -  os poucos que havia, eram poucos demais.

Quando olhei ao redor dos meus sentimentos
um espaço vazio notei
e nele eu vagando,
qual sombra nas noites sem lua,
nem a mim próprio eu avistei...

Ningém mais havia
- todos se foram...
Quem era eu?
Por quê estou aqui!  -  soçobrei?
 
Na roda que roda
minha vida inteira rodei...

Roleta da sorte tentei!

Em vão tudo foi
-  sem amigos fiquei.

Na roda que roda
rodei minha vida
-  roleta da sorte tentei.


Sempre assim será   

Sem pundonor
nem honras a defender
caminha ela pela cidade.

Pisa macio
sobre as calçadas.

Rumo não tem
            nem tem dentro de si
            o quê para alguns
                               chamar - se - ia de saudade...

Não tem um lar
-  não viu felicidade!

Está ela só.
Só...
E semprfe estará só.

Serviço seu
de vital prioridade
será anônimo (?)
porque ela não tem saudade
porque não sentiu felicidade!

E sempre assim será
porque a cidade
(que os deuses
dela tenham piedade!)
tem que defender o pundonor
                                 o amor puro
                                 e  (não mais em voga) a castidade...

Mas ela
sem pundonor
sem honras a defender
pisa macio pelas calçadas
caminhando só
pelas gélidas ruas da cidade.

Ela...
Vive sem rumo,
porque não tem saudade
e nem sente felicidade...


Na imaginação   

Desenho corpos morenos
                           empalidecidos
                           melancólicos
                           serenos

               postados
               como se fossem colunas
                                         de pedras marmóreas
na minha imaginação.

Figuas que palpitam
ao som de tamborins já se desfazem;
e... que depois,
aos poucos se refazem,
ao som de picaretas...

Vez por outra se arrastam
num desespero de última chance
rumo ao distante esperançoso objetivo:
                            matar a fome
                            saciar a sede
                            satisfazer desejos
                                             - não seus,
                                             mas dos afins.

Num ponta - pé chutar a bola
para ver como ela rola
e engulir seca a emoção
ao sabor puro do café marrom.

São corpos humanos
morenos
empalidecidos
melancólicos
serenos...

            também, aflitos
 
que só podem crer em si e na sua própria fé.


Pensamentos meus   

Pensamentos ruins e redondos
rolando por entre as sinapses
do cinzento cérebro meu.

Pensamentos cansados de vôos
pelos mágicos mundos de sonhos
redondos rolando ao léu...

Por que tão ruins e cansados
sóis vós, pensamentos meus?

Por que não trocais por azuis
vossos cinzas lenções?

Pensamentos!
Meus pensares
absortos em si por que estais?
Esquecestes que o mundo é assim mesmo:

                           que gira girando
                           num fio - eixo inclinado
                           como pêndulo fora
                           pensamentos gerando
                           e depois os girando
                           de dentro para fora
                           como se uma gigante centrífuga fora...

Pensamentos, meus pensares,
absortos em si tanto andais...

Não notais ao redor dos sibilos
que emanam de vossos rutilos
bens mais fundos que bens ideais?

-- São bens caros,
porque bens reais!

Por que sois ruins e sois cansados,
meus pensamentos geniais?

Por que não trocais por azuis
vossos cinzas cremosos lençóis?


Se a minha voz emudecesse   

Se a minha voz emudecesse
garganta minha não mais vibrasse
e assim
o grito meu calasse,
seria esse real o meu desejo:

                  -- ao vento pediria
                  num gesto de esmoler
                  que, em fúria, por mim uivasse

                  -- aos céus suplicaria
                  prostrado de joelhos
                  que em núns negras mergulhasse

                  -- ao sol reclamaria
                  que nunca
                          nunca
                          nunca mais brilhasse

Se a minha voz emudecesse
então
de mim me despiria e
numa loucura insane
tudo por tudo destruiria!

Se a minha voz emudecesse
de desgosto e de tédio
nem sei o que faria!
 
                              Talvez,
                        aos ventos                           
                        aos céus
                        ao sol
                              suplicaria...

O Outono   

Das estações do ano
o outuno é a mais velha.

Não tanto pela idade
mas pelo seu modo de ser...

O céu, que a cobre, se transtorna
e se reveste de fúria impar.

O sol no ocaso se tinge
de um colorido sêco,
sugerindo sonhos macabros.

As velhas árvores em desfolhante
raivosas se agitam
e quedas folhas crepitando
pelo chão gravitam.

De longe, um riacho murmulhante
suas bucólicas canções sussurra
criando melodias soluçantes nos ouvidos
de quem vive só pelos desvãos da vida

-- um coração premido pelo infortúnio
seus sofrimentos nas ondas ofegantes do riacho atola.

Quando à noitinha
um silêncio profundo envolve a tudo
e a natureza cansada de outono adormece
de si mesmo ninguém se lembra

-- também, dos outros a gente esquece...

As velhas árvores raivosas se agitam
e quedas folhas secas crepitando
pelo chão gravitam.


Sendo assim, assim será   

AWACS  -- cães da fronteira
vigiam as noitadas de homens bravios
que lutam seus dias melhores
por sonhos perdidos
nos escombros do milenar passado...

A norte de Sadat
será um marco na história
que gerações futuras hão de lembrar!

-- Manobras programadas
isoladas e conjuntas
de agora em diante
o extremo - médio - oriente
irão assinalar...

Um observante atento
em adendo à crônica
dissera o seguinte:

              "... o vazio produzido pela morte
                -- é claro, de Sadat --
                deixa os corações abertos..."

Em sendo assim
nada proponho
e digo:

                assim será!..


Um fato em foco   

São Paulo.
A Hebraica.
Departamento de ginástica
                        tênis de mesa
                        balet e música
                        -- pátrias canções...

São 13 e 15 da tarde.
18 de outubro de 1981.

... veja ali!
    : 6 mil humanos em evolução...

E foi assim
que o fogo se alastrou!!!

As chamas consumiram tudo.
Sòmente a dor no peito
e
um silêncio profundo
como consolo restou!..

Mas que vergonha.
O pesadelo de um passado
                        (cruel e odioso)
dos anos trinta
será que não bastou?

Será que o homem
assim chamado "sapiens"
jamais aprenderá
o que a história lhe ministrou?


AVIONICS   

Orientam o pouso macio
das aves de aço
que
robustas
cinzentas
e
cintilantes
voando às cegas
se perdem
nas ondas etéreas
das plúmbeas nuvens do céu.

Sáo astros roncando
-- doidos,  exaustos
pelas conquistas siderais

depois se estilhaçam
ao choque violento
com a crosta terrestre...

Apavorando os homens mortais!..

Avionics
é a mais bela e picante
obra - prima magistral
da moderna torre - de - babel.

Avionics orienta
o pouso macio
das aves cinzentas
que
robustas e cintilantes
se perdem às cegas
nas ondas do plúmbeo céu.


O Velório   

Não irei ao velório
daqueles que tombaram
na luta por seus ideais
--  defendendo a sua pátria
                        e a pátria dos mais...

Defendendo idéias sadias
de supremos direitos humanos
do livre viver e do live pensar.

Não irei ao velório
daqueles que tombaram
nos campos distantes da pátria querida,
defendendo os seus sonhos sublimes
do livre viver e do livre pensar.

Não irei ao velório
daqueles que tombaram
nas águas salinas,
sem pátria e sem ideais
--  defendendo as idéias dos outros...

Estes, no fundo vazios e meros joguetes de outrem
do livre viver e do livre pensar.

Não irei ao velório,
nem posso...

Velarei a mim mesmo
à toa e a êsmo
no livre viver e no livre pensar.

Não irei ao velório
nem tenho uma pátria...

Jamais velarei por alguém.
Por alguém que tivera idéias,
por alguém que tombara por seus ideais.

Não irei ao velório dos mares bravios
--  ventos fortes por mim velarão...

Nas tumbas macias das águas geladas
daqueles tombados por seus ideais
brisas serenas prestar-lhes-ão os seus uivos finais.

Não irei ao velório
nem agora, nem mais...  


Em memória aos que tombaram
nos mares do sul   


Por quem os sinos não dobraram
nem as canções
de suas melodias doloridas
por eles lamentaram
--  jazem aqui
               ali
               mais acolá...

Ausentes de saudades
porque ainda não conheceram
dias tranquilos dos verões
que às primaveras
ainda não sucederam
--  jazem aqui
               ali
               mais acolá...

Seus corpos ensanguentados
exibem a cor purpúrea de vidas esvaidas
que ao sopro leve das brisas distraidas
ruiram como pétalas de rosas
recém desabrochadas...

Pétalas de rosas coloridas
                            vermelhas
                            veludo - amareladas
                            aveludadas
                            rosas rosadas
                            despedaçadas!..

Sob o translúcido pêso do orvalho
das madrugadas de branco tingidas
levadas foram pelos ventos
                        e flutuantes se esvairam
                                                descabidas
                            não tinham asas  -  aves não eram
                         e sucumbiram...

Por quem os sinos não dobraram
nem as canções de melodias lânguidas se ouviram
jazem aqui, em terras distraidas...

Dormem um sono leve
em meio aos lençóis
de súlfuro - salgadas águas em sangue diluidas.


Instantâneo   

Quando quarenta primaveras
se despiram e se deitaram
para a sua amante cativar

então, estupefatos olhos meus
me segredaram, em silêncio,
no vidro prateado como a condenar...

Verões quarenta já tiveras
-  assim me sussurraram...
Depois, calaram - se em silêncio
p`ra nunca mais falar!

Porém,
na superfície do vidro prateado
ficou a marca indelével,
como continuando a condenar:

                               -- se vidas quarenta houveras ainda
                               quarenta vidas doarias
                               para, do vidro prateado,
                               a marca indelével apagar...

Porém,
na superfície do vidro prateado
ficou a marca mais forte indelével,
como continuando a condenar:

                              -- quarenta outonos e verões
                             ainda haveriam, se mesmo
                             quarenta vidas houveras a doar...

Quando quarenta primaveras
se despiram e se deitaram
para a sua amante cativar
                            
                             então,
                             estupefatos olhos meus ruiram
                             ... e se calaram
                                         para nunca mais "falar"!..


 

O Tempo e o espaço   

O tempo e o espaço
maneiras são de conceber
as coisas que,
cercando nossos sentidos,
nos fazem vibrar de ódio
ou de amor nos desfazer.

O tempo imaginado uma escala
de progressão, na ascenção dos dias,
nos dá uma senção  --  do hoje e do amanha,
como ponto de partida  --  em ontem;
como ponto de chegada  --  em quqlquer outro,
que não o dia de amanhã.

O espaço  --  lugar qualquer imaginado
por sobre um fundo, debaixo de uma cobertura,
não passa de um abrigo nosso,
nos escondendo em suas entranhas,
fazendo -- nos "fazer"  com retas, pontos e planos,
mais alguns semi - planos,
                               estranhas coisas de se ver...

Traçando curvas côncavas, convexas,
giramos círculos e circunferências
                              na nossa mente;
cubos em quadros transformamos,
                              discretos números enfileirando;
no tempo e no espaço nos deitamos,
                              passamos a nossa vida para frente.

São estas nossas míseras -- quadráticas façanhas.
Pequenas são nos feitos seus;
                              mas são tamanhas!!.


Avocação   

Límpidas águas
dos mananciais parnasos
de Apolo e de Musas consagrados;

... fluís, de esguelha,
por sobre os meus rocios,
pelas manhãs serenas,
decantadas.

Regais benesses da sábia natureza
que nos inspira
aumenta - nos a nossa fé
e fortalece
-- enleva o coração a uma prece...

Ainda há sedentos
-- milhares de esfomeados!

Abrande - lhes secura; ó água cristalina!.

Sê bálsamo de seus anseios
--  transforme - se na brisa matutina
que lhes transmita esperança e fé divina!..

Dai - lhes cultura magna e pão da secular Sé...

Que cante - se ainda, em alto estilo,
o canto alexandrino e o canto sublime da fé.

Para que ventos esparramem
mesmo em ritmo de pés quebrados,
sextilhas, odes e camonianas,
pela intrínseca beleza e ternura,
dos versos o universal sagrado...

Límpidas águas
dos mananciais parnasos
fluí vossos eflúvios marulhares
pelas manhãs precoces
e
pelas tardes obnubiladas...


Dona Violante   

Dona Violante  --  Sóror portuguêsa
"em cheiro e cor, virtude e formosura"
no décimo  -  terceiro canto de Camões
supera flores:  lírio e rosa.  Ternura!

De mulher abnegada, toda a beleza...
Violante odorata  --  de aromas brandura.
Cantava seus cantos  --  poemas - sermões
ao som de angélicas vozes.  Doçura...

E seus candores espaços encheram.
Vazios recheados de rimas sonaram.
E pálidas vozes gritaram bravias:

`Mulheres! Mulheres! Acordes ouviram?`
São cantos - de - sisne.  Correntes ruiram!
E pálidas vozes gritaram: Bravias!..


Em memória de Martin Luther King   

Os cânticos dos cantos salvatérios
--  odes, poemas de louvor, mais hinos,
são fruto dos submissos aos meritórios
e grandiloquentes atos humanos  
--  mais que humanos, são atos divinos...

Templo cristão: lugar de ministérios,
de vida limpa, de homens abnegados...
Homens que, despojados de si mesmos,
buscaram a paz aos mundos desolados.

Enfrentaram homens avaros
--  aqueles que tinham deixado
    um passado histórico delapidado.

Lutero, Hus e Martin Luther King
de paz universal odes teceram...
Enquanto, loucos na sua estupidez,
homens insanos em sangue se bateram.

Heróis e mártires da fé!
Na limpidez de suas vidas
Lutero, Hus e Martin King
das leis dos homens, as bases estremeceram...


Eu me resgatei!?.   

Eu te chamei de "Pepita"
e de "laço - de - fita" o teu coração.
Eu disse querer - te, querida!
com grande amor e paixão.

Cobria a neblina os espaços,
as núvens pendiam cinzentas;
enquanto eu suspirava de amores
--  tu me pensavas tormentas...

Na sombra dos negros cabelos
meus dedos macios vagavam;
enquanto os teus olhos castanhos
mentiras teciam e me traiçonavam...

Na selva dos teus pensamentos
tentei mergulhar -- foi em vão:
teus lábios ditosos negavam verdades
--  diziam amar -- me de fato, então.

As falenas têm asas de opala
refolham verdades, mentiras também...
Notei nos sorrisos dos teus desvaneios
crateras jorrando veneno e fel!

Teu "laço - de - fita" atou meus suspiros,
tirou movimentos do meu coração...
--  O grande amor que em mim habitava
tornou - se em ódio: perdi a razão!!.

Não mais te chamei de "Pepita"
nem de "laço - de - fita" o teu coração.
Não mais disse amar - te, querida,
nada senti mais  --  nem amor, nem paixão...

A neblina perdeu - se no espaço
e as núvens distante se foram...
--  meus suspiros voltaram de novo,
novamente senti reviver meus amores.

Outros lábios então me beijaram,
em outros cabelos meus dedos pousei.
Ouvi novas mentiras e novas verdades
de novas falenas...  Eu me resgatei!!?

Quadras, quintilhas e sextilhas

Na canção em rubato,
da minha existência do livre pensar,
à vontade me sinto no mundo
e sempre alegre me ponho a cantar.


Meu coração, não sei por que,
chora saudades, lembrando de você!..
Eu já tentei não ser assim,
mas não consigo  -  será este o meu fim?..

Pretéritas vozes estrugem no espaço  --
evocam passadas lembranças de sonhos sonhados
                                                                 - ainda infantes...
Pretéritas vozes são vozes algozes
que ferem meu peito  -  desfeito de saudades...

Sonhos desfeitos antes de serem sonhados
não passam de uma fado - verdade
dos sem amor a viver destinados...

Ouvir a tua voz   

Porque ouvir a tua voz
em já me acostumei.
Ela faz parte
do ressonar dos meus ouvidos.

Como serei
sem o sussurro de tuas frases...
O quê a quem responderei?

Quando a janela me transmitir
o batucar da chuva fria,
a quem direi do palpitar do coração?

A quem alegre e extasiado admirarei?
A quem falarei das gotas de orvalho
das madrugadas serenas de verão?..

Porque ouvir a tua voz
já se tornou um ato sacro
do imenso templo da natureza...

Em cada baloiçar de folhas verdes
eu vejo um eco das batidas
dos lábios coloridos teus.

Eu ouço frases incompletas
--  algumas introvertidas,
querendo me enganar
se projetando contra as corolas
de fracas pétalas sentidas...

Porque ouvir a tua voz
é misturar o canto das sereias
ao canto triste dos pardais;
é entregar - se ao desatino
e é tornar - se fraco
sucumbindo ao pêso de milhares ais!

Mas não!!.

Porque ouvir a tua voz
-- mesmo distante,
é um prazer de infante.

Eu já me acostumei.

Vigiar de longe os teus lábios,
daqui pra frente, é o que farei.

A vida, embora seja por vezes ingrata,
dá - nos o consolo das lembranças
que reconfortam e reanimam
--  mostram imagens inexistentes do passado
que tão bonitas e eternas se disseram.

Não fossem os teus lábios e a tua voz...
--  não haveria imagens inexistentes do passado
e tão bonitas e eternas não não se teriam dito!..

Mas não importa!..
Eu sempre hei de ouvir a tua voz...
Ela faz parte do ressonar dos meus ouvidos.

Apenas mais um lembrete:
--  jamais esqueças do que sempre falei
... muito te amo e muito te amarei;

porque ouvir a tua voz
eu já me acostumei.

Ela faz parte do ressonar dos meus ouvis.


 

Aos 22 ela partiu (8.jan.84)   

Quando você nasceu...

A natureza  toda exultante
se contorcia de alegria...

é que naquele mesmo instante
a flor mais bela se abria.

Os céus sorriam de contentes,
estrondejavam os trovões...

E as estrelas luzi - reluzentes
o feito espargiam pelas campinas,
e pelos vales, matas e sertões.

Cantavam ninfas seus acalantos
nas madrugadas pouco frias
dos pálidos invernos tropicais.

Enquanto a dor e os desalentos
roiam n`alma seus tristes momentos,
do velho bardo dos cantos de iara
fluiam ecos cantando seus versos relentos.

Hoje, 22 invernos passados,
esquecidos por todos
e por muitos calados;

os céus continuavam alegres
como que a cantarolar,
graças àquela flor  -  que ora partira,
mas que um dia houvera nascido para os incentivar...


Controle remoto da genética das espécies   

Esperma  -  "cauda - cabeça"  -  toxóide...

Pelas trompas de Falópio
empurrada pela cauda,
a cabeça no óvulo se embrenha
-  um choque espermatóide
fissão provoca energo-explosiva
e
num instante
produz vivisseção vital da cauda.

Dispositivo emissor de micro - ondas
um ultra - som, talvez possamos assim dizer,
talvez faria este feito  -  reproduzindo o natural,
para lançá - lo ao seu destino
fertilizando a vida no caminho inicial...

Mas haveria um tal super - império
que avocasse a si um tal mistério?..
Pois se houver, que se apresente
- e trace os destinos dos mortais!...

Porém, um tal império
terá  de dominar o anti - ion colidente
pra não perder, de modo algum,
o controle tanto do corpo quanto da mente.

Nem a metralha cósmica é tão perigosa
quanto a mente dos homens sem arreios
podendo aterrissar em solos férteis em devaneios
para nas viagens galático - espaciais
um aníon de hidróxilo em catíon transformar...

Assim jamais será, nem poderá acontecer
-  pois Pageos fotosintetisa,
obturadorivando a 1/ 9192631700 segundos
a forma da terra e dos seus sinc - movimentos...

Do micro  -  sol ultrapassando os limites: BH 1952,
da cósmica mecânica engrenagem,
do referente magnéico e da sua mental humana estiagem.

O que será dos zimbos?
                                           dos
                                           musgos,
                                           líquens,
                                           arandos e
                                           dos
                                           tufos?


No vale de lágrimas schubertiano   

No vale de lágerimas schubertiano
sou viandante sofrido, de passagem;
pelas terras do ocidente
eu sou um boêmio perdido em triagem...

Não prendo - me a nada e a ninguém.
De mim senhor sou eu mesmo
-  mais quem?

Se decido não ser nada
então vago só a êsmo.
Eu sou boêmio mesmo!

Doloroso e trágico destino
confidenciou - me o deus da sorte
e pediu - me que esperasse
a chegada da sra. Morte.

Na existência de fantasia
aos caprichos da nefasta sina
despreocupado sigo
(mas haverá algum?)
o meus destino...

Paixões bravias
destroçando o coração
como num sonho macabro
mergulham a vida da minha ilusão.

E de alma afetuosa,
ternamente mansa  -
sempre prestimosa,
o meu ser se derrama
como água cristalina
nos braços de uma criança.

E eu sigo o meu caminho
-  sem rumo e sem arrimo,
como se fora um pequenino
abandonado pelas vidas do caminho!..


Mãe jovem   

Mãe jovem
como poucas jovens mães
ainda em flor
desabrochando uma tulipa
                                  rosa
                                  simples jasmim
nos braços frágeis
de menina - moça e já mulher
cheios de espinhos
criados pelo tempo
                    antes do tempo
onde pássaros
jamais fizeram ninhos
um ser nascente
leda e bravia
meigamente acalentando...

Destino falso e traiçoeiro
um plano fáustico teceu...
Os braços frágeis de menina
antes do tempo fortaleceu!

-  por que cheguei eu adiantado
ou por que ela se atrasou?
para nos braços seus - dela
um peito de outrem, que não o meu,
... sem permissão pousou?

Mesmo assim
eu quero - a tanto
que o mundo lhe quisera dar,

quisera juntos  -  eu e ela
um ser nascente dela
nos braços meus e dela
                           embalar...       


Um castelo em destruição   

Se alguém não viu ainda
cinzas de um castelo em construção;
então chances tem agora
de ver cinzas de uma castelo em destruição

Vigas - mestras
arquitraves em ruinas
nada são  -  viraram pedras
sem sentido e sem razão
em meio a brasas consumindo
o que havia de melhor
nas paredes de intenção...

São as cinzas de um castelo
sem formato e sem visão!..
Construtor desse castelo
era um louco, sem imaginação.

Cinzas, cinzas
cinzas de um passado não remoto
-  deveria ser castelo
de um amor sem condição?


Estado firme do Cosmo   

Estado perene e firme do cosmo
é a sua genesiaca atividade;
processando, de modo constante,
a formação de novas galáxias
-  reciclando vias lácteas
   dos restos estelares,
de extintos sistemas de outrora...

Universo infinito no espaço e no tempo
delimitado pela ação gravitacional
de nuvens gasosas e poeiras em torvelinho
num eterno crescimento colisional

                aglomerado de poeiras
                metamorfose de nuvens - massa
                em estrelas brilhantes  -  solares
                refletindo a vida em arrebol...

Por vezes, tempestades se manifestam
na forma de titânicas nevascas
zumbindo furacões torrenciais de açoites
na turbulenta atmosfera tropical
do grande Jupiter oval...

Nem Atol de Biquini viu tanta proeza
quanta se possa imaginar
a respeito do cosmo e da sua braveza!


Falar com Deus   

Falar com Deus sòmente
sobre aquilo que Lhe compete
mas
sobre as obras humanas
sòmente o homem deve responder...

Porque culpar Aquele
que nada tem a ver
com a burrice estúpida
do beco - sem - saida
em quê, de modo insane,
o bípede humano se quiz meter?

Pensou saber demais
o suficiente pra se aventurar
pelos espaços longes
-  dos montes e das montanhas
e também do mar?..

Para além do cosmo observável
nas asas da burrice se propagou
até que percebesse
que pouco ou nada sabe
sobre os caminhos do infinito que navegou;
nem mesmo ainda sabe
em seu casulo térreo de como se estruturou...

Por que culpar Aquele
que fez as coisas como deveriam ser
e que ao homem
não as compete desvanecer!


Sonho de menino   

Desde menino quis ser poeta
para falar de amor.
Para encontrar um grande amor!

~Desde menino quis compor versos
que retratassem cálidas noites
por entre as nuvens navegando
deixando saudades atrás de si...

Cresci.
Montei poemas.
Compus versos e canções.
Mas falar de amor ainda não aprendi...
Não aprendi
porque no peite e nem na alma
as picadas de amor ainda não senti.

Se já senti
-  não me recordo.
Eu não recordo nem de mim mesmo
-  ou, talvez, eu já me esqueci?..

Mas quando vi em você
o grande amor dos sonhos meus
gritei bem alto
tão alto que a lua escurecer - se fez
o sol queimar - se de vergonha quis
a minha alma, no peito meu,
qual sorvete gélido de milho verde
se desfez e derreteu
-  o sonho meu
que era até então um sonho de menino
desmoronou  
-  morreu...

Foi quando vi você pela vez prima
gritei bem alto  -  deve lembra - se inda,
mas foi à toa;
você não era a que esperei
-  palavras suas me vaguearam...

Pelas ruas da saudade que não havia
buscando o sonho de menino, não me achei!..


Eu vi hoje claro   

Eu vi hoje bem claro
os valores da vida ruirem...

Sòmente a vida existia e eu.
Por entre os escombros
de tradições inconsistentes
nada sobrava
a não ser os meus versos e eu.

Catártico vento varreu - me de ponta a ponta.
Liberto senti - me, sem laços morais
eu continha em mim mesmo a sorte:
o plano de vida a mim pertencia
- eu era um gigante por sobre os mortais!..

A força em mim residia
-  e era imenso o seu pundonor
sòmente de amor precisava
para desabar sobre o mundo,
qual fúria do branco gigante,
toda a carícia da íntima paz interior...

Eu vi deslisarem qual neve aguando
os grandes preceitos dos seres mortais
e seus julgamentos de nada valiam
-  porque sem efeitos,
porque corriqueiros e muito banais...

Ruptura total de valores se dava
e nada restava para me torpedear
-  eu era inconteste
o meu ponto de fuga vingava
que mais eu amava de entre os iguais.

Converso em mim mesmo
eu mais de mim me achegava
enquanto o meu rubro e cálido rosto,
por entre milhões e milhares de outros,
um que lhe fosse seu par mais candente buscava...

Lá distante,
para além do horizonte,
na penumbra cinza da existência
coração igual ao meu se avolumava
e das batidas do seu ventrículo esquerdo
algo inusitado  -  escarlate e divino,
qual torrente indomável,
sobre mim se projetava!..

Era ela
que do nada se agigantava
e sobre mim estonteamente desabava...

Era ela
toda formosa e bela...
Deixava -  me louco de amor
porque senti que amava
a sua graça e a sua dor...

Por entre os escombros nada sobrava
a não ser os meus versos, eu e ela
e a sua, que agora também era minha, dor...

O vento cantava, dizia:
que a força em mim residia
e era imenso o seu pundonor
-  sòmente de amor precisava
afagado de carícias
numa coberta de calor...


Em memória 04.04.1984   

Arisca menina de pálido rosto
- um reflexo da prátea lua.
Pareceu - me ontem
que ainda estavas entre nós...

O teu brilho gelado ofuscava a noite
e as sombras das matas caiam por terra.

Arisca menina
-  feroz porém eras feminina.
De porte elegante e bravia;
o gemido das tuas dores
parecia ser um canto de cotovia
que nas serenas madrugadas
os desejos desanuvia.

Arisca menina de pálido rosto
teu brilho inquieto solapava o brilho da lua
e a lua não passava de uma escrava tua.

Pareceu - me ontem
que ainda estavas entre nós...

Era saudade apenas
lembrando o teu pálido rosto
e a  tua estada aqui.


Quando sentires o palpitar   

Quando sentires o palpitar dos teus glóbulos vermelhos
e ouvires o som do batucar dos teus suspiros
não exites por nenhum instante em registrar estes momentos
em forma de poemas   -   de  versos calmos. São sentimentos.

Quando sentires o desejo de sufocar os gritos do teu peito
- jamais o faças, porque terás desfeito
a obra - prima da natureza que se manifesta,
aos fortes brados,
como se fora uma seresta
num dia de grande festa...

Quando sentires o palpitar dos teus glóbulos vermelhos
e um desejo de sufocar os gritos do teu peito;
então terás vencido toda a tristeza do mundo
e em versos terás registrado este sublime feito.

Quando no teu íntimo sentires ser um poeta,
terás conquistado o pódio das glórias de um atleta.

O plapitar dos glóbulos vermelhos
e o desejo de sufocar os gritos do peito
são formas nobres do existir  
-  são formas justas e de pleno direito...


Que bom, assim   

Queixumes teus
são beijos meus
em forma de ciumes.
Sei que me amas
por mim reclamas
e queres - me sempre
para sempre ao teu lado.

Eu sou feliz
por ver - te assim
-  chorar, sofrer,
morrer por mim...
Sentir ciumes.
Amor assim
jamais terá seu fim.

Queixumes teus
são beijos meus.
Que sempre seja assim!
Eu ao teu lado
e tu juntinho a mim
-  o nosso tesouro:
alegre sorrindo sem fim.

Serás feliz,
comigo estando.
Meu ombro forte
será o teu apoio
-  serei eu amigo teu...
Viveremos um para outro
a despeito de qualquer perigo.

Eu serei teu e
tu serás minha;
para sempre - e - sempre
-  até o fim...


Meu querer é você   

Se há coisa que mais eu queira,
na certa é você
e sòmente você.

É você o meu solilóquio
o meu pensamento
a minha fala
e todo o meu sentimento.

É você
e só você
que me embala.
Em você e por você
que a minha vida estala...

Bem cedinho, na alvorada,
ao crepúsculo do cantar da madrugada,
quando a noite já se despede
e a lua com as estrelas
vai deixando a boemia,
eu escuto a sua voz
irrompendo o novo dia.

Se há coisa que mais eu queira
é você com o seu sorriso de alegria...

De tardinha,
quando o dia já cansado de labuta
se despede no engabelo
da noturna algazarra desconexa
então nada,
mas nada mesmo se escuta...

A lua de novo vai à boemia
com as estrelas novamente a brilhar;
meus ouvidos
a sua voz de novo escutam
-  eu a sinto nos meus braços,
                          toda minha,
confessando me amar!

Se há coisa que mais eu queira
é você toda feliz
espargindo a ternura
-  toda a candura que há em você...

Sem você jamais seria
o que eu sinto ser agora  -  renovado!..
Você é a gota do elixir que me avigora!

Se há coisa que mais eu queira
certamente é você:
durante o dia
dutante a noite
-  a qualquer hora...


O Apocalipse   

Quando as trompas do Apocalipse ecoarem
e a natureza se tornar cinzenta,
e quando o verde  -  então amarelado,
recordar os dias idos do povoado;
então
os ventos entoarão a sinfonia dos desertos
enquanto os universos, de braços abertos,
projetarem sobre a rosa - dos - ventos
o seu bafo satânico de efeitos incertos.

E todos os homens, se algum houver inda,
lembrar - se - ão do grande e glorioso dia
quando em meio ao turbilhão dos mares
pelejas de conquistas se fazia...

Naqueles idos séculos passados
turbilhonavam ventos ao som de canhões,
enquanto singravam nas águas dos mares
potentes veleiros  -  vencendo tufões.

A corrida dos anos se processava...
Célere feitos ditosos enchiam espaços
de norte ao sul... distâncias vencidas
uniam a todos, num único felpo do gato manul.

Esnobavam os homens seus feitos...
Faziam malfeitos bem - feitos a outrem
enquanto estimavam de aço as feituras
num gesto sublimado de aventuras...

Na ânsia de ver cordilheiras transpostas
erguiam - se pilares - colunas, ligando encostas,
enquanto de fome morriam milhares
de pálidos sonhos sulcados nos travessos mares.

***

O mundo antanho já se findara,
trombetas apocalípticas soaram
-  sonam os ventos as sinfonias desertéreas
propagando - se pelos espaços das ondas etéreas...


Não temas a vida   

Não temas a vida
nem temas a sorte.
Sê forte!
Guerreira labutes
- destino terás a teus pés...

És linda:
tens olhos de anjo,
um coração de mulher...
Amigos terás!
Feliz trilharás a estrada, filha querida,
que estenderá um tapete vermelho aos teus pés...

Meu ombro amigo terás como esteio.
Não tenhas receio
- carinhos de sonhos são bons...
São como a relva nas manhãs da primavera
-  revestindo os jardins dos desejos,
amaciando - nos os caminhos da vida,
fazendo de nós sermos mais...


Conselho de mãe   

Mamãe me dissera um dia:

"Filho!
 quando na vida enfrentares a falta de amor e carinho,
 não temas a sorte... Sê forte!
 - terás o teu dia...
 Amores terás e terás mil carinhos..."

Acreditei no que ela dissera
-  a vida ficou mais calma e mais bela:
a esperança revestiu o meu sonhar...

Tive amor, tive carinhos
e, mais que tudo, eu fui feliz  
-  eu soube amar!...


Inspirado na Medéia   

Inspirado nos encantos
das perfídias de Medéia,
qual trovador e bardo grego
eu quis cantar meus dissabores...

Porém, no meio da serenata
o meu canto virou festa:
esqueci os dissabores
-  tornei - me poeta de valores,
minhas senhoras e meus senhores!

Quis rever a minha juventude
pra repensar a instância toda
então eu vi: valeu a pena
-  a sorte por mais ínfima que fosse
foi surpreendente, foi um aporte
aconchegante no mar da fúria
-  para mim foi um norte...

Inspirado nos encantos
das magias de Medéia
que, saciando os seus instintos,
devorou atores e a platéia,
eu quis quis traçar o meu caminho
destroçando os valores consagrados,
diluindo as normas e as condutas,
para leantar um mundo novo
sobre as cinzas do passado...

Mas a trágica Medéia
com seus feitos sanguinários
eclipsou - se nos meus atos,
de tão rudes e ingratos,
que da alma as profundezas
se fizeram em brasa ferver...

Então as filhas de Pélias,
nos encantos dos meus atos,
ao sabor de um corpo já cansado,
me fizeram de novo cantar:

***

Sou viajante sideral
que navega pelos espaços
à procura de um porto - amigo
onde possa ancorar.

Já exausto e cansado,
debati - me muito contra as ondas,
haverei de um dia
esse porto encontrar?..

Na longinqua imensidão dos mares
sem horizontes vislumbrantes,
vagueando sobre as ondas,
o meu barco quer e pode afundar!

Mas insisto eu  -  clamando grito,
não desisto de lutar...

Haverá além  -  um pouco mais adiante
uma guarita à minha espera
-  serenando sobre as vagas,
que em seu regaço ondulante
dar - me - há o abrigo quisto
de um eterno repousar!?.

***

Armas genocidas...

Substâncias tóxicas de ação neutralizante
-  gás tóxico, o quê será?
-  CS, CS2
Gás nervoso
- VX, LSD, BZ
Venenos
2,4 d  /  2,45 T
dioxinas cancerígenos mais fortes,
destruindo o verde e a vegetação...

Protocolo  25 (de 1925),
firmado após a primeira eclosão,
proibe armas químicas e bio - mortes
- que nele se enquadre toda e qualquer nação!..

83 da ONU (de 1983)
157 contra 1
proibia o que já tinha sido proibido:
brincar de armas químicas e bio - mortes.
- Pois que de novo se enquadre
toda e qualquer nação!..

Vietname, Laos e Kampuchea
-  agente laranja e só?..

De novo se faça um apelo
- e que nele se enquadre,
de novo,
toda e qualquer nação!


Seu pálido rosto   

Seu pálido rosto,
nas sobras do ignoto,
por entre os cabelos escuros
esparge saudades...

Seus gestos altivos,
de orgulho gostoso,
de rara beleza, saudosos,
burilam a alma da gente...

Era assim o seu jeito
assim é de você a saudade...

Partiu sem despedir - se
deixando - nos a lápide gelada
nela impressa a  sua áurea
que há de sempre reluzir...

Foi - se embora, deixou saudades...

Para além da vida
e muito além da morte;
-  onde estiver você,
repose em paz!

E nós mortais,
que aqui ficamos,
por mais instantes,
a sua estada entre nós
-  o seu charme e a sua amizade
em nossas mentes resguardamos...


3 poema de uma saudade   

poema 1

Eu sempre quis falar contigo
agora é tarde
-  tu não estás.

Partiste assim inesperadamente
sem despedidas de ninguém...
Levaste mágoas ou desavenças,
ninguém o sabe.  Nem eu, também.

Por  que partiste sem um adeus?
Por que deixaste os amigos teus?
Por que?..

Porque a dor da tua ausência
terá de agora a tormentar - nos
só porque não soubemos
um pouco mais em ti confiar!

poema 2

Talvez um dia lá no além
além das nuvens e das estrelas,
bem mais além dos espaços siderais,
destino tenha nos reservado um encontro
-  então espere por mais esse momento,
quando não mais falharemos, não mais!..

Aqui tu foste uma estrela ignota;
lá no além, tu serás uma estrela sem par...

poema 3

Arisca menina de pálidas faces
-  reflexo da lua
ou
- reflexo da lua e do sol...

Teu brilho gelado ofuscava a noite
fazendo, nas sombras das matas
do canto das folhas serenas, bailando a esmo,
uma última serenata da vida...

Era tua a despedida!..
Era tua a partida!..

De porte elegante e bravia, inerte partias.
Para sempre te despedias sem falar;
                                          porém, sorrias...

Teu pálido rosto imóvel,
silente solapava o brilho da lua
até dizer - se podia:
a lua não passava de uma escrava tua...

Pareceu - me que ainda ontem estavas presente.
Era saudade apenas,
lembrando que não mais estás entre nós.


Quadras, quintilhas e sextilhas   

A corrida dos anos não me tomba
nem a sombra do passado me assusta;
o que me intriga é essa existência injusta
a uns dá de tudo, a outros
tão sòmente de cemitério a lomba!

De "A" a "Z", só  há rimas e você?
Vejamos só, se é verdade...
Vou começar, preste atenção!
Fala aqui um coração:
de "A" a "Z" não são só rimas
- há o amor e há você!

Eu sou a sombra de mim mesmo
-  enclipso - me na minha existência padrão;
embora eu sinta a liberdade me corroendo,
procuro manter - me fiel à escravidão.

Detesto as leis dos homens,
mas enquadro - me perfeitamente nelas
e na suas prescrições:
                talvez por falta de coragem
                ou por falta de algo mais forte
                que me dê mais vida e mais razão...

Não te esqueci,
jamais te esquecerei;
por ti, não importa onde e quando,
sempre esperançoso lembrarei!

Se em seguindo o teu caminho,
não prestares um mínimo de atenção;
poderás entrar num beco sem saida
sem nenhuma retornável condição...

Ao me olhares assim,
-  tu me torturas;
os teus olhos só me querem,
enquanto tu me censuras...

Na esteira dos meus dias
vou rolando devagar...
Vez por outra, sem que o queira,
escapulo, mas retorno a rolar.

Ela disse não, não quero!
Mas beijou - me distraida
e ficou gostando tanto,
que virou minha querida...

Quando as teclas do piano saltitam
e os acordes seus ecos vomitam,
meu trêmulo peito suspira
- murmúrios em tom de gemidos...

Feridos os meus sentimentos,
não conseguem de pausa os momentos;
Transformando em cadências de paz,
o som harmonioso  -   não me apraz...

Eu quero um rufar de tambores
que realce as minhas lembranças,
que fira os mmeus tímpanos e me ensurdeça,
para que não mais ouça eu o teu nome
nos sussurros da brisa, no marulhar das águas
e no burburinho das multidões...

Eu quero ouvir trovoadas
-  tempestades gemendo seus ais;
eu quero uivadas de entes abstratos
que obstem o resto dos meus ideais!


Acredite em mim   

O meu amor por ti é vero
                              é sincero e
                              é belo
porque vem da alma e também do coração.

O meu amor nasceu da tua imagem,
na distante miragem, em horas de solidão.

Quanto mais eu mergulhava na tristeza e na dor
mais a tua imagem me impregnava,
refletindo - se no espelho do meu coraço sofredor...

Eras tu  -  cândida e simplesmente bela
tresloucando os sentimentos meus...

Então comecei amar - te!

Declarei - me pronto e senti o teu calor...

Te amo tanto que se de ti distante
me transformo em puros prantos
-  jamais viveria sem ti,
   sem a tua companhia...

__________________________________


Haverá neste mundo
um alguém que me queira
mais forte que as águas furentes
do gigante oceano - mar?

Se houver...
Será esse alguém
de feição selenita?

Que de longe,
mirando os giros da terra,
não se sinta terráqueo

-  porque distante dos planos terrenos
e junto aos mortais não habita?

Será esse algém
habitante de um  outro planeta?

Saudades não sente,
consciência não tem perceptiva
-  amar, ser apenas um ato volúvel
qual gélida neve, flocante e solúvel?

Será esse alguém
um expresso de amor não flagrante
ou será uma vida perdida nas noites do tempo
buscando um refúgio eterno
no pálido agreste do meu viver instante?

Talvez, seja uma pura saudade
-  imagem de sonhos corridos,
por entre as colunas tombadas;

do passado recente dos tempos
que sonhos não sonharam
porque não os souberam...

Haverá nesse mundo
um alguém que me queira amar?..  


Saudades   

Saudades sinto daquele inverno
que no passado longinquo se escondeu...

Daquele inverno sinto saudade e de você.

Saudade sinto daquele abajur.
O abajur que nunca foi desligado,
porque jamais foi aceso...

Eu sinto saudades do abajur e de você.

Daqueles acordes sonoros que nunca soaram
eu sinto saudades...

Eu sinto saudades da música que jamais foi tocada...

Eu sinto saudades dos acordes da música e de você.

Porque sinto saudades de tudo isso,
eu sinto saudades de você!..


Por que?   

Por que será
que os que amam sofrem tanto?..

Será porque o mundo social é tão ingrato
ao ponto de as bases da existência
impiedosamente pretenda dissolver?

Ou a pessoa  -  objeto amado
por natureza mesma do seu ser
tem por quinhão manter - se fria
para mais o amor enobrecer?

Ou ser amado é cometer crime
mesmo maior que o não amar depois fugir?

Será pecado amar?..
Então quem ama, deva sofrer?

Por que será
que os que amam sofrem tanto?..


Recordando os Jesuitas   

1500.
Ano da Graça...

A céu aberto,
em solo virgem,
fincado,
da terra ainda sem pecado,
ergue - se um cruzeiro
--  rude madeiro talhado
apontando para o infinito!...

São Jesuitas
semeando nobres ideais cristãos.

Vão cumprindo a ordenança:

"Caminhai por este mundo afora,
  aos quatro cantos da terra
  Boas Novas anunciai!..
  Aos homens de boa vontade,
  paz e a fé serena, ensinai!.."

"Salvação
  -  de Cristo a vida,
  a todos os que a almejarem, outorgai..."

Lá vão os padres jesuitas abnegados,
pelo fato simples de servir a Deus,
dedicar - se ao resgate de almas irmãs
das terras distantes da terra européia
e dos povos distantes dos seus...

Vão pregando a ordem divina
aos incultos nativos da terra ainda sem lei,
mostrando - lhes a beleza e a verdade
de se tornarem seus (d`Ele) amigos
-  d`Aquele que um dia se fez homem
para remir os terrenos,
transformando - os em irmãos seus...

Lá vão os padres jesuitas desbravando as almas
-  fundam aldeias, criam escolas,
ensinando os nativos a ler e a escrever...

Ensinam artes e cantos sacros e instrumentos a tanger.

Cravos, frautas e violas
encantam aos ouvidos dos meninos primitivos...

Seus pais, vislumbram novos tempos,
retribuindo aos jesuitas, como a sua gratidão,
-  o calor do novo continente no seu alvorecer.

Apontando para os céus do infinito,
ainda em solo virgem brasileiro,
então ergueu - se um grande cruzeiro
-  um rude madeiro talhado
e nele, de amor salpicado,
escrito imprimiu - se: esta terra é de Jesus!.

O grande marco da história humana
que só um jesuita o saberia apreender!..


As Malvinas   

No areópago das decisões
homens ilustres:  
magistrados,
sábios
-  tomadores de resoluções.

Quantas, quantas desilusões!

Para uns, as ilhas são Malvinas.
Para outros elas são Falklands.

Para os demais,
não passam de terras geladas
de carneiros povoadas
de búfalos e de marinhos aniamis...

Num berço de pedras deitado,
ao sul do geo - globo
das águas furentes do Atlântico Sul,
dormitava esquecido um pedaço de terra,
                                  extensão patagã,
                                  argentinando
                                  aos luares das luas do sul.  

Um pedaço de terra tranquilo jazia...

Em jazendo
nas águas salinas
aos poucos se desfazia.

O Norte sabia
que aquele pedaço
era mais que um pedaço
-  era uma jóia encrustada
ainda não lapidada
abandonada
aguardando o cinzel
de um joalheiro sulino.

Seria um travesso menino...

O Norte se calou...
Na surdina
surdo - e - mudo aguardou.

E o tempo ia correndo
correndo
correndo
e correndo se esgotou...

Do Sul o joalheiro
então se apresentou.

Na lapidar mensagem
o pedaço adormecido,
num repente,
ao cinzel se transformou!..

Canhões seus cantos entoaram.

Sonatas e sonatinas,
ao som de grande orquestra,
em seus compassos descompassados,
aos ritmos sonolentos de batutas
em desacordes desfilaram
-- o gran concêrto grosso iniciaram...

Eram prelúdios que não findavam
da grande "ouverture" infernal.

Pós  -  lúdios de apoteose,
com seus compassos de intróitos,
anunciavam a terceira sinfonia universal...

Impunes gargalhadas
se riam de si mesmas,
sorrisos nocauteando
ao som do sibilar dos violinos.

O vespertino morrer do dia,
tombando sobre si mesmo,
esmagava o crepitar "silente" da natureza...

Lá mais além...

Além das águas gélidas de um oceano enfurecido
um viajor parado,
numa pousada secular,
queria ver um dia éditos bramidos
- dos poemas seus inéditos,
ao deslisar das suaves melodias
e dos cantos dos trovões do sul.

Orquestras de violinos, de violas e de violoncelos,
em tom vibrato  ma - non - troppo,
tangendo belas e suaves melodias
detonavam no cerne do peito aflito
escassos momentos de palidez sentimental.

Acordes de arpejos e de staccato
num revesado de fugas em contraponto
sucediam - se heróicos pelos ares...

Revolviam sonhos passados.
Faziam chorar de suadades!..

Sorrisos e melopéias se misturavam.
Lembranças felizes de jatos alegres
afloravam e se uniam à instrumental
e englobante harmonia.

Integrava - se o conjunto de retesadas e afinadas cordas
do canoro e sonoro festival de bélicas orgias!?.

Mas o tempo ia correndo
correndo
correndo
e correndo se esgotou...

Do sul o joalheiro
mais que depressa
se apresentou.

O pedaço de terra,
que tranquilo jazia,
em sobressaltos
de modo estranho vibrou!..

O viajor parado, suspirou...

Suspirou.
Suspirou.
Suspirou.

Depois, levantou o seu cajado
e seus cantos decantados,
como antes não cantara,
cantou, cantou, cantou...